Numa noite eu acordei morrendo de sede, e resolvi ir para a cozinha para
tomar um copo de suco ou o que quer que tivesse na geladeira. O meu quarto fica
fora de casa, então peguei a chave de casa e fui até a porta da frente.
Destranquei a porta e entrei. Eu ouvi alguém subindo os últimos degraus da
escada, que fica bem do lado da porta de entrada de casa. Eu acendi a luz e não
vi ninguém lá em cima. Achei que podia ter sido algum dos meus dois irmãos ou os
meus pais e não dei muita importância para o fato, e me dirigi para a cozinha.
Chegando lá matei a minha sede com o resto do suco que tinha numa jarra e
resolvi voltar para o meu quarto para dormir.
Quando estava passando pelo lado da escada de novo, ouvi o barulho lá em cima
novamente. Resolvi ver quem mais estava acordado e fui subindo a escada. Quando
a minha cabeça atingiu o nível do chão do andar de cima, comecei a olhar em
volta, mas não vi ninguém e o andar de cima não tinha lugar para se esconder, é
só um corredor com as portas dos quartos, e estavam todas fechadas e eu não
tinha ouvido barulho de nenhuma porta fechando.
Eu pensei que podia ser algum desses barulhos que as casas fazem à noite e
resolvi voltar para o meu quarto. Mas quando eu encostei a mão na maçaneta, eu
ouvi um chiado muito alto, como se alguém estivesse esvaziando o pneu de um
carro. Mas quando eu olhei para trás, não tinha nada na escada. Eu subi correndo
para ver se via alguém, mas o corredor estava vazio.
Agora eu já estava bem assustado e resolvi que não queria ficar ali nem mais um
segundo. Eu corri até a porta e quando estava saindo eu vi uma garotinha sentada
no último degrau da escada, olhando para mim. Ela não era assustadora, nem tinha
uma aparência estranha. Ela parecia ter uns 12 anos e estava vestida com uma
calça jeans e uma blusinha rosa. Mas só o fato de ela estar ali, uma garota que
eu nunca tinha visto na vida, uma estranha na minha casa, já fez o meu sangue
gelar.
Eu sai de casa, tranquei a porta e corri para o meu quarto. Eu nunca mais vi
aquela garota, mas ainda ouço alguns sons inexplicáveis a noite. Apesar o medo
que eu senti, eu não me senti ameaçado por ela. Acho que ela só queria que eu
soubesse que ela está lá. Se alguma coisa mais acontecer aqui em casa, eu mando
para vocês.
Lúcio - São Paulo - S.P.